A busca pro nosso interior no exterior!
- Britto, R.S.
- 15 de abr. de 2018
- 4 min de leitura

Sempre que eu penso, ou converso com alguém sobre ter morado fora do Pais acaba que inevitavelmente eu trago a tona praticamente a versão de um clássico de princesas da Disney. Eu vou organizando os pensamentos, enumerando e rankiando (que verbo!) tudo de bom que vivenciei morando lá, e tenho percebido que nem sempre consigo passar os fatos subjetivos,os quais foram extremamente importantes, e que até hoje talvez sejam ainda os maiores motivos de motivação para voltar a morar lá.
Neste tempo de Brasil, inclusive extremamente descontente com muitas coisas na minha vida, optei por não deixar de acompanhar grupos, perfis, usuários e seguir amigos que ainda estão lá, de certo jeito usando como uma forma de sempre manter algum tipo de vínculo e acompanhar mesmo de longe que tudo que me fascina lá ainda seja real, e assim também eu não acabe fantasiando mais do que parece ser e perca os argumentos que sempre me motivaram para lá voltar. Nisso, eu acabei por cair em uma entrevista, ainda que antiga, do ator Pedro Cardoso, que parece que entrou nos meus pensamentos, os organizou e fez um texto pequeno e fantástico ( o qual , com a minha falta de habilidade de ser sucinta eu jamais conseguiria escrever) justificando por que Portugal (talvez como outros países de fora) seja prazeroso morar.
Trago-o para cá então, como forma de resumir o que sempre tentei explicar.
“A razão da nossa pobreza é não ter serviços públicos. Quando a sociedade não tem serviço público de qualidade, todo mundo luta por ter muito dinheiro, porque você acha que com muito dinheiro você vai se livrar do hospital público, transporte público, da insegurança pública e tudo mais, que é tudo ruim .
Como Portugal tem bons serviços públicos […], ninguém tem a ambição de ser rico. A pessoa tendo um bom trabalho e ganhando bem, ela se sente protegida, se sente bem. Claro, uma ou outra pessoa tem um pouco mais ambição, mas não é a norma. Não é esse desespero brasileiro. Porque que o brasileiro quer ter tanto dinheiro? Pra escapar da falência do estado e da miséria do poder público. Então eu, em Portugal, tenho muito menos ansiedade de ganhar dinheiro do que no Brasil. É uma das razões que me fazem me sentir bem lá
Gostaria muito que o Brasil um dia fosse um país que a gente tivesse bons serviços públicos. Escola pública, entendeu? Não ter que pagar escola particular. Transporte público, não ter que andar de táxi, não ter que andar de carro blindado, entende? Saúde pública: Um plano de saúde para a minha família no Brasil é 5 mil reais por mês, em Portugal é mil reais, para cinco pessoas, porque é um plano de empresa. Porque que lá é mais barato? Porque o hospital público é bom, então o plano não pode ser caro porque ninguém ia querer
Eu ganhando em Portugal 10 mil reais é a mesma coisa que ganhar 50 mil reais no Brasil"
Pronto. é isso o que eu sempre quis passar para todos que tentaram me questionar o por que eu ainda gostaria de morar lá.
Eu faço um curso da saúde, mas não posso negar que talvez o que realmente pulse em mim é o espírito das biológicas. O que me pego pensando inúmeras vezes, é por que eu estou buscando uma carreira que me permite trabalhar? Resposta: para ter RENDA! E qual é a principal razão de se ter dinheiro? Resposta: SOBREVIVER.
VIVER não anda fácil por aqui, por que como simplificou Pedro, estamos tentando a todo momento viver fugindo da falência do estado, e ao meu ver morreremos trabalhando feito uns camelos e jamais deixaremos de ser refém disso aqui nesse Brasil. E isso para mim não é vida.
Lendo esse texto do Pedro, junto do fato de eu conviver comigo mesma, ser conhecedora de minhas ambições de vida, e tendo vivido lá, vejo que eu estou perto do que quero ser, só que estou no lugar errado.
Eu não tenho grandes ambições de adquirir nada muito caro na vida, viso só um conforto mínimo, o que justamente no Brasil, parece que requer muito pra isso. Nunca quis casa grande com luxo, nem carro bonito e veloz, não quero muitas roupas, nem sapatos, quero mesmo é poder ir trabalhar de bike sem medo de ser assaltada, andar a noite para tomar uma cerveja apé, queria poder criar meus filhos sabendo que vão ser respeitados, tipo quando pisarem em um faixa de pedestre e os carros pararem, queria também cria-los em um mundo em que eles fossem incentivados a aprender a tocar um instrumento musical e falar outra lingua na própria escola, sem ter q desembolsar quase nada pra isso, por que cultura não se compra.
Quero trabalhar em um país que quando eu pensar e comer fora, não terei que desembolsar uma fortuna, não se enquadrando portanto como uma extravagancia. Lá sendo eu uma trabalhadora assalariada, com um salário minimo, eu estaria comprometendo só 1,2% do meu salário quando solicitasse "menu" qualquer no Ali kebab (que inclui um prato, bebida e um cafézinho) ou então um hamburguer da casa completo por 0,60%.
Eu quero só trabalhar pra pagar meus impostos e que nisso já esteja segurado o básico pra ter qualidade de vida com acesso a saúde, educação, segurança. E isso lá é fácil, muito fácil. Sejamos bem realistas, obvio, é fácil pra quem é de lá ou quem tem oportunidade de conseguir alguma oportunidade de ganhar alguma renda, com essa nossa migração em massa, prevejo um futuro bem ruim. Mas nada pior do que se aponta por aqui.

Quero trabalhar não para acumular dinheiro, quero no máximo empatar que seja , mas que tenha sempre o prazer de viver em um lugar onde as coisas funcionam e eu me sinto protegida. Quero ter que trabalhar menos para ter tempo de fazer trabalho voluntário, para aproveitar as pessoas da minha volta e para fazer pelegrinações de dias afio, e que isso oportunize conhecer outras pessoas que estiverem nesse mesmo caminho. Além de ter mais tempo comigo e pra mim mesma.
Quanto menos eu trabalhar por necessidade de ter algo que deveria ser básico, mais tempo eu terei para me conhecer e completar minhas razões de viver e atingir a felicidade por vezes mais seguidas.
Eu desejo mesmo trabalhar pouco, e ganhar pouco, mas ter tempo de fazer coisas na vida que o dinheiro não compra.
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