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Era uma casa muito engraçada...

  • Britto, R.S.
  • 27 de fev. de 2018
  • 4 min de leitura

Em uma das tantas olhadas pela minha atual janela, me veio a idéia de escrever sobre minha ex-casa, se é que existe o prefixo "ex" pra esses casos, enfim.

Casa muito engraçada

Na verdade não era uma casa, era um ap, um lar, meu lar, o primeiro lugar que chamei de meu, mesmo que os móveis e quase tudo que tinha dentro fossem meus só enquanto paguei o aluguel. Eu sentia muito amor por aqueles espacinhos.. eu tive uma casa muito engraçada, e vou deixar descrita ela aqui.


Curiosa a expressão "engraçada"! Aqui no Brasil existe inclusive uma música que fala de uma casa, que era engraçada pelo fato de não ter teto, nem nada. No português lusitano a mesma expressão remete a alguma coisa ter certa beleza, ser valorizada,. "Vi de passada só, mas até que aquela gaja era bem engraçada". Sentiu a linha de pensamento, né?!


Pois então, era engraçada por duas razões: era realmente bonitinha, a separação dos cômodos, os móveis, mas principalmente era engraçada porque era na verdade um sotão remodelado para ser uma casa. Assim, eu morava acima do telhado do prédio, por obviedade tinha menos ventilação do que apartamentos normais, mas nem por isso impossibilitou de eu passar lindos dias sentadas a beira da janela, minutos a fio pensando na vida, e na curiosa visão que eu tinha.


Minha janelinha era pequena, mais curta e baixa que o normal, as cortinas que tapavam ela, nem preciso comentar que pareciam a da casinha da barbie, eram duas janelas, pra ser mais exata, uma no meu quarto e uma na lavanderia, que era onde eu acabava por jantar a maior parte das vezes, e também o local onde eu recebia as visitas. Elas duas eram viradas pro mesmo lado, e me possibilitavam a visão do mesmo lado da rua, onde curiosamente eu tinha a vista aérea de vários prédios vizinhos e placas de propaganda, e visão no chão de um posto do saúde e um cemitério. No início foi estranho, confesso, mas depois eu acostumei, e de tanto que olhei os 9 meses pra lá, já me achava até intima do pessoal dos túmulos. A maior parte das lembranças que tenho, por obvio era de ver aquela janela com respingos de chuva pelo lado de fora, ou então com vista do céu cinzento que só mesmo Aveiro faz por nós. Também tinham aqueles dias de umidade relativa lá em cima, que via os vidrinhos tudo suados.


Meus quartos( o meu e o de hóspdes, rá eu tinha um quarto de hóspedes) tinham tetos rebaixados, que eu quase não sentia pelo fato de nem ter 1,60m. Algumas aberturas das portas também lembrava a casa dos 7 anões, sem dizer de alguma bizarrices que os fazia tão original, como era o caso das tubulações de água e o relógio contador de energia que ficava do lado de dentro do quarto. Ter o pé direito tão baixo e próximo de mim me dava uma sensação de que aquela casa me abraçava, e eu não havia provado sensação tão boa nem na casa dos meus pais onde em teoria eu tive muito mais conforto.


A cozinha e a sala tinham o pé direito mais altos. Na sala tinha uma clarabóia, que eu achava demais, dave de ouvir o barulho da chuva batendo nela enquanto eu estava deitada no sofá, era quase música para os ouvidos, a claridade do luar no meio da noite ajudavam os olhos recém abertos ainda adptando os bastonetes aquela intensidade de luz. O aproveitamento da ultima claridade do dia/noite no horário de verão... enfim, se um dia eu fizer uma casa, eu volto a ter uma clarabóia. Minha cozinha era muito simples, todos utensílio muito surrados e usados, mas tratados com carinho que rendiam muitas refeições recheadas de amor. Como eu comia sempre no RU/cantina da universidade, o jantar era sagrado, e eu realmente quase sempre acertei a mão e fui feliz jantando naquela mesinha embutida na parede na lavanderia que ficava embaixo do varal. E quando a maquina de secar estava ligada, era quase que ter o prazer de jantar com a calefação ligada. Sim eu tinha uma maquina de secar, o que resolvia meu problemas com umidade e chuvas em 99,9%. Deixei para descrever o banheiro por último, pq ele era o mais engraçado, e porque não dizer incomodo e estranho mesmo. Era de longe o comodo que eu menos gostava, se Harry Potter tivesse um banheiro no seu quarto debaixo da escada que ele dormia com toda certeza seria um IGUALZINHO ao meu. Ele era realmente muito baixo, as batidas de cabeça no teto eram certeiras cada vez que me descuidava e ia pra frente demais quando apertava a descarga(autoclismo)ou levantava repentinamente a cabeça depois de pegar algo que houvesse caido. Por ser muito pequeno o calor dos banhos quentes (esses que por sinal eram divinos) era sufocante. O box com uma portinha e meia, cabia uma pessoa sem se mexer dentro, se levantava um braço pra se lavar, o outro tinha q seguir baixado. E as vezes que o registro pelando de quente encostava nas costas?! ou era batido pelos cotovelos?! E aqueles xampus e sabonetes desmoronando a cada virada que eu dava sem calcular. E aquele exaustor com barulho insuportavel que sempre ligava junto com a luz (banheiros lá n costumam ter saida pro lado de fora, nem janelas).

Janela da Lavanderia

E aqueles 5 andares de escadas intermináveis para chegar com as compras, cansada do trabalho ou levemente embriagada, só deixavam aquele apartamento mais e mais engraçado.



Fiquei pensando se eu devia postar uma foto de algum comodo, ou se deixaria na imaginação de quem lê, optei por colocar uma foto das janelas, que foi a real razão de começar essa publicação.


Posso ter mil vistas espetaculares onde eu for morar daqui em diante, mas estou certa de que nenhuma nunca substituirá aquele bem estar que me causava estar olhando para aquele além....



Janela do quarto

O que eu senti quando tive que desalugar ele na vinda pro Brasil, quando tirei tudo que era meu de lá de dentro, e o vi ser redecorado, por uma amiga que ocupou meu lugar lá, até hoje dói. Foi uma sensação horrível de que o lugar em que fui tão feliz, a partir dali não existia mais, não daquele MEU jeitinho. Assim como todo o resto.


 
 
 

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